Barolo, a Grande Estrela do Piemonte e Seus Personagens Históricos.
De um vinho rústico, tânico e desequilibrado ao prestígio e reconhecimento internacional. Curiosamente teve um dos seus expoentes também contribuindo com a viticultura brasileira na Serra Gaúcha.
De um vinho rústico, tânico e desequilibrado feito pelo "contadino piemontese", ao prestígio e reconhecimento internacional digno da representação máxima da qualidade, tradição e viticultura italiana.
A metade do século XX foi marcada pela reconstrução da Europa. Foi um período de transição da vida rural para as cidades. Nesse contexto, Renato Ratti, filho de contadinos, deixou os campos do Langhe para estudar na Faculdade de Enologia de Alba. Ao fim do curso, recém-graduado, surgiu uma oportunidade de trabalho na tradicional fabricante de Vermouth, a Cinzano de Torino. Inicialmente, Renato desenvolveria suas funções na Argentina, mas o destino o realocou no Brasil, onde por uma década contribuiu também para a viticultura brasileira na Serra Gaúcha. Talvez sua passagem e contribuição na viticultura brasileira fossem ainda maiores não fosse o Golpe de 1964, que o fez retornar à Itália.
Dica de Filme #1:
Link para o filme completo no youtube: Renato Ratti, o inovador do Barolo
De volta ao Piemonte, Renato Ratti, sob a influência da viticultura francesa, comprou um vinhedo e alugou dos monges beneditinos a L’Abbazia dell’Annunziata para ser a sede vinícola. Hoje, o local é o Museu Renato Ratti do Barolo. Mais do que uma inspiração estética, o enólogo dedicou-se ao aprimoramento do vinho, sendo pioneiro na região ao mapear e dividir os vinhedos, assim como na Borgonha. Começou a utilizar de maneira sistemática a passagem e evolução do vinho em barris de carvalho para torná-lo mais palatável e consistente. Por fim, recuperou um modelo de garrafa histórica da região datada dos anos de 1700, batizando-a de Albeisa como símbolo do território.
Renato dizia aos viticultores da região: "O vinho do Langhe deve ter as uvas cultivadas dentro do território. Deve ser vinificado e engarrafado em cantina dentro do território". Sua dedicação técnica à viticultura e perseverança na valorização do território e do vinho piemontês resultaram, em 1980, na formalização das regras que regulamentam o Barolo com Denominação de Origem Controlada e Garantida (Barolo DOCG).
Mas é nos anos 80, que surge outro movimento no Langhe: "Os Barolo Boys". Liderados por Elio Altare e Chiara Boschi, filhos dos velhos viticultores da região, que assim como Renato, também eram influenciados pela enologia francesa, promovem uma verdadeira revolução nas empoeiradas e velhas cantinas piemontesas. Chegam ao ponto de substituir as centenárias botes de madeira, cortando-as com motosserras para inutilizá-las, e substituindo-as por novas barricas de carvalho. Nas vinhas, passam a controlar o rendimento das videiras para que os frutos gerados tenham mais concentração de açúcares, ácidos e sabores. O principal argumento dos Barolo Boys é que não era correto fazer um vinho que precisasse esperar 20 ou 30 anos para ser apreciado. Deveria ser um vinho que, ao chegar às mãos do consumidor, ele pudesse escolher apreciá-lo imediatamente com qualidade, mas que tivesse a opção de guardá-lo para deixar evoluir. Em outras palavras, o que eles queriam era que a escolha da guarda fosse do cliente e não uma "imposição" do vinho.
Dica de Filme #1
Link do Trailer do documentário: "Barolo Boys: A história de uma revolução"
Entre viagens ao exterior para apresentar o novo Barolo e as disputas internas entre modernismo e tradicionalismo, em meados dos anos 90, o reconhecimento da crítica faz com que o Langhe se consolidasse como uma das principais regiões vinícolas do mundo, colocando o Barolo ao lado dos Grand Crus Franceses.
Em 2014, os vinhedos do Langhe tornaram-se oficialmente Patrimônio Cultural da UNESCO:
"Seus vinhedos são um grande exemplo da interação humana com o ambiente natural. Após o longo e lento desenvolvimento do know-how vitícola, a melhor adaptação possível das castas aos solos e componentes climáticos específicos, e os conhecimentos enológicos tornaram-se uma referência internacional. A paisagem vitivinícola também expressa suas grandes qualidades estéticas, tornando-se um arquétipo das vinhas europeias." (www.navicup.com).
Ao longo dos anos 2000, o movimento dos Barolo Boys praticamente se desfez; cada um seguiu seu caminho. Atualmente, no Langhe, existem dezenas de produtores. Há aqueles que utilizam as botes grandes para o envelhecimento dos vinhos, outros que utilizam as barricas, e ainda aqueles que optaram por uma linha intermediária, usando botes grandes e barricas para produzir seus vinhos. Mas uma coisa é unânime: o entendimento e o trabalho coletivo dos viticultores piemonteses em prol de um objetivo – o Barolo à mesa das pessoas como a principal estrela.
Por fim, o Barolo, feito 100% da uva Nebbiolo, apresenta uma cor rubi com reflexos alaranjados à medida que envelhece. No nariz, exibe uma bela complexidade aromática, com flores vermelhas, violetas, frutas de bosque e notas terrosas também conforme evolui. Em boca, o Barolo revela taninos firmes, sua assinatura, bem integrados à alta acidez e um bom corpo e persistência. É verdadeiramente um vinho de muita elegância e estrutura.
Para quem ficou curioso, os vinhos da Ratti podem ser encontrados no Brasil e são importados e distribuidos pela Ravin. Deixo aqui o site para consulta: https://www.ravin.com.br/ratti
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Muito interessante Rafa! Eu particularmente gosto muito dos vinhos dessa região. 👏