Como se tornar um expert na degustação de vinhos
Prepare-se para essa jornada, começa aqui a série na newsletter "Como se tornar um expert na degustação de vinhos" e nesta primeira parte contarei como identificar e descrever os aromas dos vinhos.
Já foi comentado em edição anterior a história dos vinhos de Bordeaux e a degustação dos vinhos Grand Crus.
Para quem ainda não leu aqui está o link para o artigo:
Também apresentei os vinhos, que, na minha opinião, foram os mais representativos na ocasião. Mas, no mesmo texto, citei também alguns descritores aromáticos que podem ser identificados nos vinhos daquela região. Foi então que surgiu a ideia de falar sobre os descritores aromáticos, pois em inúmeras ocasiões em que converso sobre vinhos, algumas pessoas disseram “eu não consigo sentir cheiro de nada, eu não consigo identificar e entender como faz para sentir esses aromas”!
É neste contexto que nasce a primeira Série da Newsletter onde apresentarei em vários capítulos tudo o que precisamos para saber fazer uma degustação de vinhos no “nível expert”.
A série se chamará “Como se tornar um expert na degustação de vinhos” e na primeira edição falarei sobre os aromas dos vinhos, como identificá-los e descrevê-los facilmente. Então vamos lá!
Os aromas no vinho são divididos em três categorias principais: aromas primários, secundários e terciários. Essas categorias refletem a tipologia de uva, o terroir, as técnicas de vinificação e estágios de evolução do vinho.
Mas antes de prosseguir, vale dizer uma coisa importante: A capacidade de identificar aromas está diretamente ligada à memória olfativa e gustativa individual, ou seja. Não se preocupe se eventualmente alguém descrever um aroma de algo que você não conhece, pois isso está relacionado às experiências individuais ao longo da sua vida. Portanto, esse aroma desconhecido poderá ser interpretado por você de uma outra maneira.
Por esta razão a boa armazenagem dos vinhos é fundamental para evitarmos a interferência de fatores externos neste processo que consequentemente aceleram e alteram os aromas do vinho. – Qual a melhor forma de armazenar vinhos em casa?
1 - Aromas Primários:
Os aromas primários são aqueles que vêm diretamente da uva e do processo de fermentação. Esses aromas são geralmente frutados e florais ou mesmo herbáceos que remetem, em grande medida, características de frescor do vinho.
Dica: Essa dica parece óbvia, mas ela serve para filtrarmos dentro do nosso cérebro os aromas e assim direcionarmos nossa descrição. Por exemplo, um vinho branco será mais comum identificar aroma de frutas e/ou flores brancas, verdes e/ou aromas de frutas cítricas. Ou seja, neste vinho excluiremos qualquer nota de fruta ou flores vermelhas. Sendo assim podemos neste exemplo apontar os seguintes descritores: Maçã|Pêssego |Flor de Laranjeira.
O mesmo raciocínio vale para degustação de um vinho tinto. Ou seja, excluiremos os aromas de frutas brancas e cítricas e tentaremos identificar sempre os aromas de frutas e/ou flores vermelhas: Morango | Ameixa |Violeta.
2 - Aromas Secundários:
Já os secundários se desenvolvem após o processo de fermentação do vinho. Por consequência teremos aromas originários de eventuais passagens em madeira, da conversão malolática ou ainda do contato com as leveduras. Portanto temos como respectivos exemplos: notas de baunilha, notas amanteigadas e aromas de panificação.
3 - Aromas Terciários:
Estes por sua vez se desenvolvem durante o estágio de envelhecimento do vinho, à medida que ele evolui nos barris de carvalho ou mesmo em garrafa. Esses aromas resultam do processo de oxidação do vinho, que nada mais é que o contato do vinho com o oxigênio controlado pelo ambiente de armazenamento. Por exemplo, um vinho envelhecido em barril de carvalho poderá apresentar aromas café e caramelo, enquanto um vinho evoluído em garrafa poderá apresentar, por exemplo, notas de petróleo e mel em vinhos brancos; e notas de cogumelos e couro em vinhos tintos.
Agora, como fazer para organizar, reter e aplicar este raciocínio quando abrimos uma garrada de vinho?
Uma das ferramentas existentes é a da “Roda dos Aromas”, que nada mais é que uma ferramenta visual que classifica e divide os descritores aromáticos de forma a facilitar a nossa tarefa sensorial. Ela foi desenvolvida pela Ann C. Noble, uma renomada enóloga e professora da Universidade da Califórnia em Davis. Noble desenvolveu essa ferramenta para ajudar os iniciantes a entenderem e descreverem os aromas complexos encontrados nos vinhos.
Como utilizá-la?
1 - Observação visual: Antes de começar a identificar os aromas, é importante observar visualmente o vinho (o ideal é um ambiente com luminosidade e uma mesa ou fundo branco para não interferir na análise). Note a cor, a intensidade, a limpidez. Essas características visuais podem dar pistas sobre os aromas que você pode esperar encontrar.
Exemplo: um vinho branco de tom esverdeado e pálido, ou seja, “bem clarinho” e transparente, tal como este mostrado na foto anterior, pode nos direcionar à notas mais cítricas como limão, ou frutas brancas menos maduras, ao invés de notas de frutas mais amareladas e maduras como uma manga e abacaxi. E o mesmo raciocínio pode ser aplicado para um vinho tinto de cor mais clara e transparente comparado a um vinho de coloração mais densa e fechada que nos leva a identificar respectivamente notas de frutas vermelhas frescas em um cálice e frutas mais maduras e mais escuras no outro.
2 - Primeiras impressões: Antes de “cheirar o vinho” é importante rodar a taça e movimentar o líquido dentro, pois este ato promove a aeração do vinho e libera o aromas, em outras palavras abre o vinho. Ao cheirá-lo pela primeira vez, preste atenção às primeiras impressões. O que você percebe imediatamente? Frutas? Especiarias? Flores? Anote ou simplesmente faça uma reflexão mental sobre isso. E repita o exercício tentando a cada ação identificar um ou dois descritores fazendo um sempre um resgate mental das suas próprias experiências olfativas.
Degustar um vinho em companhia sempre agrega. Cada indivíduo, como dito anteriormente, traz consigo uma experiência olfativa e gustativa única. Assim, ao compartilhar a análise de um vinho, é comum que alguém identifique nuances aromáticas que talvez nos escapem momentaneamente. Este processo estimula nossos sentidos e desafia nossa percepção, contribuindo para o refinamento do paladar e da cognição. Em essência, a degustação é um exercício que aprimora não apenas o palato, mas também o cérebro, aumentando nossas habilidades sensoriais.
3 - Referência à roda de aromas: Após as primeiras impressões, consulte a roda de aromas do vinho. Ela geralmente está dividida em categorias amplas, como frutas, vegetais, especiarias, etc. Comece identificando em qual categoria os aromas percebidos se encaixam.
4 - Refinamento: Dentro de cada categoria, a roda de aromas apresenta subcategorias mais específicas. Por exemplo, se você percebeu um aroma frutado, procure identificar se é mais próximo de frutas vermelhas, cítricas ou tropicais. Isso ajuda a refinar a descrição do aroma.
Portanto, aprender a descrever os aromas de um vinho, nada mais é do que prática e experiência. Em outras palavras, utilize a roda de aromas regularmente e pratique a identificação de aromas em diferentes ocasiões, não apenas com os vinhos. Tente sentir os aromas dos alimentos e outras bebidas - alimentos frescos, principalmente frutas e legumes são a base dos aromas primários; os pães e biscoitos, ou produtos de panificação, nos dão muitas referências dos aromas secundários; e cafés, eles nos dão as referências dos aromas terciários, das notas tostadas, notas de amêndoas, entre outras.
Seguindo essas dicas, com o tempo e um pouco de treino, sem dúvidas, você desenvolverá uma linguagem mais precisa para descrever os aromas dos vinhos.
Gostou das dicas? Compartilhe com os amigos(as) e fique atentos na sequência da nossa série “Como se Tornar um expert na degustação de vinhos”.
Ahhh, esta semana, abra um vinho e siga este passo a passo e depois me conte nos comentários como foi a experiência!
…Até a próxima newsletter!
BAITA post, Rafa! Sempre bom pensar também nos apreciadores amadores... :D