Edição Especial: 1 Ano de "Um Vinho em 1 Minuto" com um Tour em Champagne.
Um Vinho em 1 Minuto completa um ano! Vamos brindar com um tour pela icônica região de Champagne, explorando na primeira parte do texto sua história, vinhedos e tradições.
Há exatamente um ano embarquei na ideia de criar o blog Um Vinho em 1 Minuto com textos semanais sobre vinhos, regiões, dicas e curiosidades sobre este universo. Iniciei sem nenhuma pretensão e realmente não imaginava o alcance e o volume de acessos que o blog poderia atingir. No entanto, no final de 2024 decidi fazer uma pausa, pois produzir conteúdo de qualidade demanda um tempo e dedicação enormes, e manter a qualidade dos conteúdos é respeitar o tempo dos leitores. Então, desde já, agradeço todos os assinantes por dedicarem seu tempo para ler meus textos. E por favor, comentem, deixem perguntas, sugestões e compartilhem. Sem dúvida a interação de vocês ajudará na criação e melhoria dos textos, e contribuirá também para que mais pessoas leiam os conteúdos publicados.
Agora, ao completar um ano, renovo minha vontade de seguir compartilhando conteúdos. Para 2025, a frequência será mais flexível – minha meta é produzir dois textos por mês, mas manterei a temática e tentarei produzir conteúdos com maior profundidade e detalhes, obviamente com base nas minhas experiências e conhecimentos.
Agora chega de introduções e vamos ao que interessa. Vamos comemorar 1 ano do blog com um brinde de Champagne.
Para quem acompanha desde o início, já publiquei aqui um texto intitulado “Nem tudo o que borbulha é Champagne”, o qual contamos como surgiu a cultura de celebrar momentos especiais com este vinho espumante, que, sejamos justos, é diferente dos demais.
Onde é a região de champagne?
A famosa região de Champagne, está localizada dentro da região administrativa Grand Est, e a cidade de Reims, principal cidade, está a cerca de 150 km a nordeste de Paris, ou seja, de trem é uma viagem de cerca de 2h.
A cidade que, apesar de ter sido praticamente destruída pelas guerras, tem entre as principais atrações turísticas as famosas Maisons e caves de champagne localizadas no perímetro central da cidade, e a Catedral de Notre-Dome de Reims (construída em 1211, que é o principal ponto turístico da cidade).
A Igreja foi construída em estilo gótico e foi palco das coroações dos reis franceses desde 816.
Reims também foi o local da assinatura do tratado de rendição que pôs fim a segunda guerra mundial em Maio de 1945 - O Museu da Rendição de Reims é outro ponto que pode ser visitado por aqueles que gostam desta temática.
Já fora do perímetro urbano da capital, quem deseja conhecer os vinhedos e o restante da região de champagne, o ideal é utilizar um automóvel, que pode ser alugado na própria estação de trem de Reims.
As 5 Sub-regiões produtoras de champagne:
O interior da região, possui um relevo colinar com vinhedos cuidadosamente cultivados e alguns “villages” (pequenas cidades) que são verdadeiramente uma volta ao passado. A região geográfica produtora de chamapagne é dividida em 5 sub-regiões cada uma com características únicas.
Montagne de Reims
Conhecida por seus vinhos estruturados e encorpados, essa região é dominada pela Pinot Noir, que confere intensidade e complexidade aos champagnes. Aqui estão localizados muitos dos 17 villages Grand Cru, como Ambonnay, Bouzy e Verzenay, considerados os melhores locais para o cultivo dessa uva.
Vallée de la Marne
Predominantemente cultivada com Pinot Meunier, essa sub-região oferece champagnes mais frutados com alta acidez. villages como Mareuil-sur-Aÿ e Hautvillers (onde Dom Pérignon viveu) se destacam.
Côte des Blancs
Território absoluto da Chardonnay, que dá origem a champagnes elegantes, frescos e minerais. Os vilages Grand Cru de Avize, Cramant e Le Mesnil-sur-Oger são referências mundiais em champagnes Blanc de Blancs, conhecidos por sua longevidade e finesse.
Côte de Sézanne
Uma extensão natural da Côte des Blancs, essa região também foca na Chardonnay, mas com um estilo mais leve e floral. Embora menos conhecida, produz vinhos que complementam blends, trazendo frescor e delicadeza.
Côte des Bar
Situada ao sul, próximo a Dijon onde começa a Borgonga, essa área é dominada pela Pinot Noir e produz vinhos mais robustos e aromáticos. É uma região crescente em popularidade, com vilarejos como Les Riceys ganhando destaque por seus vinhos de grande caráter.
No total, Champagne possui 17 villages Grand Cru e 42 Premier Cru, categorizados com base na qualidade excepcional de seus vinhedos. Os villages Grand Cru da Montagne de Reims e da Côte des Blancs são particularmente famosos, enquanto os Premier Cru da Vallée de la Marne complementam a diversidade da região que combina o clima frio, o solo calcário e o blend de uvas Chardonnay, Pinot Noir e Pinot Meunier.
Como funciona a classificação Premier Cru e Grand Cru em Champagne?
Em linhas gerais é um parâmetro que define qualidade. São levados em considerações fatores como o (micro)clima, a composição do solo, a altitude e a exposição solar dos terrenos, ou seja, são aspectos que influenciam diretamente a qualidade das uvas cultivadas e, por consequência, do vinho. Portanto, se pensarmos numa pirâmide qualitativa na base dela teremos o Champagne AOC, seguido do Champagne Premier Cru e no topo teremos o Champagne Grand cru. Segundo a CIVC (Comité Interprofessionnel du Vin de Champagne) em termos de produção Champagne AOC corresponde a 90% da produção, Premier Cru a 8% e o Champagne Grande Cru apenas 2%.
Uma particularidade:
Na região de champagne essa classificação é diferentemente de outras denominações, onde as parcelas dos vinhedos é que recebem a classificação, como é o exemplo da Borgonha – pois como dito, a classificação depende de diversos fatores relacionados ao Terroir.
Em champagne são os villages inteiros que recebem o título. Isso se deve por uma série de motivos, que vão desde uma maior homogeneidade geográfica e climática, ou seja, pouca mudança de uma parcela de terra para a outra dentro de uma mesma cidade; segundo fator, estilo de vinificação – uma vez que champagne é produzido a partir de blends de uvas, a parcela do vinhedo se torna menos importante para o resultado final do que em outras regiões; e terceiro ponto, diferentemente de outras regiões vitivinícolas, em champagne é comum o viticultor vender sua produção para produtos de vinho e também para comerciantes. Isso significa que quem produz a uva sequer produz vinho. Pode parecer estranho, e um fator que pode colocar em cheque até mesmo a qualidade do vinho produzido, não?!
Dica de Ouro: Como identificar a procedência de produção de um Champagne
Visto que quem cultiva uva nem sempre produz vinho, o comitê que controla e regulamenta o vinho de Champagne – CIVC criou códigos para que os consumidores saibam a procedência do vinho. Esses códigos estão nos rótulos das garrafas de Champagne:
NM - Négociant-Manipulant: Refere-se a grandes casas de champagne (as "Maisons"), que compram uvas de vários viticultores para produzir e comercializar seus vinhos.
Exemplos: Moët & Chandon, Veuve Clicquot, Perrier-Jouët.
Características: Foco no blending de uvas de diferentes regiões para criar um estilo consistente e reconhecível.
RM - Récoltant-Manipulant: Pequenos produtores que cultivam suas próprias uvas (mínimo de 95%) e produzem o champagne em suas propriedades.
Características: Representa champagnes de terroir, geralmente mais artesanais e com foco na expressão do vinhedo do produtor.
CM - Coopérative de Manipulation: Champagnes produzidos por uma cooperativa de viticultores, onde as uvas são coletadas e vinificadas em conjunto, sendo o champagne comercializado sob uma marca comum.
Características: União de esforços de pequenos produtores para competir com as grandes maisons.
RC - Récoltant-Coopérateur: Viticultores que pertencem a uma cooperativa, mas que recebem uma parte do champagne pronto e engarrafado da cooperativa para vender sob sua própria marca.
Características: Menos controle sobre o processo de produção, mas com rótulos personalizados.
SR - Société de Récoltants: Um grupo de viticultores (geralmente da mesma família) que trabalham juntos para produzir e comercializar champagnes sob uma única marca.
Características: Similar ao RM, mas com esforço coletivo familiar.
ND - Négociant-Distributeur: Empresas ou comerciantes que compram champagnes prontos (engarrafados) de produtores e os comercializam com sua própria marca.
Características: Foco em distribuição, não na produção.
MA - Marque d’Acheteur: Champagnes vendidos sob uma "marca do comprador", geralmente uma marca própria de supermercados ou grandes distribuidores.
Características: Produzidos por outros produtores, mas vendidos sob rótulos personalizados para o cliente.
Abaixo no rótulo de champagne é possível encontrar o código no canto inferior direito e identificar a respectiva procedência. Neste exemplo é um NM - Negociant Manipulant
Portanto, se você busca um champagne artesanal e único, procure por RM ou SR, já para opções consistentes e amplamente disponíveis, NM é a escolha mais comum. Já as cooperativas (CM) oferecem boa relação custo-benefício, e não são ruins ou de qualidade inferior.
Já MA, é o que mais se encontram nos supermercados, pois esses champagnes focam na quantidade e preço.
A História Efervescente do Champagne
Poucos sabem que o método champenoise, é o responsável pelas bolhas de dióxido de carbono e complexidade do espumante. O método foi aperfeiçoado pelo Monge Beneditino Dom Pérignon. Ele viveu de 1638 a 1715 e foi o monge responsável pela adega da Abadia de Hautvillers, na região de Champagne, França.
A Abadia é uma igreja de 665, de estilo arquitetônico muito simples. Ela foi construída sobre uma capela erguida em homenagem a um eremita que dedicou sua vida a orações e a contemplação na região. Mas foi apenas no final do século XVII quando tornou-se lar do Monge Don Perignon que a igreja “ganhou prestigio”.
Embora o método champenoise tenha sido aprimorado ao longo do tempo, Dom Pérignon começou a desenvolver práticas que contribuíram para esse processo no final do século XVII. Acredita-se que ele tenha começado suas experiências por volta de 1670, refinando técnicas como a mistura de diferentes uvas e o uso de garrafas mais resistentes com rolhas de cortiça, que ajudavam a preservar a efervescência natural dos vinhos. Embora Dom Pérignon seja frequentemente associado à invenção do champagne, o método champenoise foi formalizado apenas em 1718. No entanto, a lenda de Dom Pérignon como "pai do champagne" perdura devido à sua influência decisiva no aprimoramento da qualidade dos vinhos espumantes.
300 anos após a existência Don Perignon atualmente podemos dizer que é um ícone pop do mundo dos vinhos. Sua sepultura é uma atração turística no village de Hautvillers, sem contar que existem estátuas suas espalhadas pela região. Além disso, seu nome estampa o rótulo de um champagne caro e cobiçado, uma garrafa de Don Perignon ano 2013 ultrapassa os 200€ e a marca pertence ao grupo LVMH que detém a propriedade da Maison Moët & Chandon.
Portanto, o que é champagne?
O breve panorâma da região e o relato histórico do surgimento do método nos faz, portanto, entender o que é este vinho espumante de acordo com a Appellation d'Origine Contrôlée (AOC) Champagne:
Champagne é um vinho espumante produzido exclusivamente nesta porção do território francês; a partir do cultivo e vinificação das uvas Pinot Noir, Pinot Meunier e Chardonnay (no total são 7 variedades de uvas permitidas, mas o blend clássico são essas 3); Essas uvas podem ser mescladas entre elas para fazer um blend com uvas de diferentes partes do território; O blend clássico de um champagne é 1/3 de cada uma das 3 principais uvas; O método de fermentação é o clássico, ou champenoise, que consiste em efetuar a etapa de refermentação do vinho na garrafa ao invés de efetuá-lo unicamente em barris ou tanques, com por exemplo é o Prosecco italiano que já contamos aqui no Blog.
Assim, apenas os vinhos produzidos nesta região podem ser chamados de champagne, os demais são vinhos espumantes e levam também os nomes de suas respectivas denominações, como por exemplo: Cremant (nome dos vinhos espumantes franceses produzidos nas demais regiões do país).
Na próxima edição, será publicada a segunda parte deste texto, que será “Um Roteiro de Viagem de Final de Semana em Champagne”, com as dicas de visitas em cantina e locais para fazer degustação na região vinícola mais famosa do mundo.
Muito obrigado pela leitura e até a próxima!
Comemorando o primeiro aniversário em alto estilo! Belíssimo post! Um brinde!!!
Fantastisco Rafa! Essas fotos do acervo pessoal enrriqueceram muito o artigo.