Edição especial de 20ª publicação: Verona, a Cidade do Amor e do Amarone.
O post de hoje é um pouco diferente, ele marca a 20ª publicação da newsletter e nele apresento a minha cidade, o local onde tudo (re)começou para mim desde que mudei para Europa há 4 anos: Verona.
Localizada no Veneto, norte da Itália, aos pés dos Alpes das Dolomitas e contornada pelo imponente rio Adige, Verona é uma cidade que transcende ao tempo com sua rica e importante história, lenda romântica e, obviamente, seus vinhos excepcionais. Nesta edição especial, a 20ª publicação da newsletter “Um vinho em 1 minuto” apresentarei La città di Verona, cidade que morei por apenas três anos, mas a intensidade dos dias, as transformações tão grandes que vivi pareceram ser três décadas. E com Verona me identifiquei, é o lugar onde aprendi tudo o que sei sobre vinhos e gastronomia, e é por isso e tantas coisas que a chamo de minha cidade. Portanto, no texto desta semana apresento com muita empolgação um breve histórico da cidade e o surgimento do vinho Amarone. E para quem se interessar, ao final do texto, deixo algumas dicas turísticas: sobre o que conhecer, onde comer e beber, e que cantinas vinícolas visitar.
Verona, assim como toda a Itália é um mosaico histórico complexo, uma colcha de retalhos, uma cidade estratificada pelo tempo, mas que desde a sua fundação teve sempre muita relevância logística e econômica para seu território.
Verona, o surgimento da cidade
Fundada no século I a.C., não se tem definitivamente a etimologia do seu nome, há teorias que indicam que Verona deriva de uma língua “indo-europeia” que relacionam o nome da cidade ao rio Adige que corta a região. Outra corrente teórica faz alusão à rivalidade existente entre Verona e Roma, a qual o nome da cidade significaria “Rival de Roma”. Mas independente da verdadeira etimologia, fato é que a cidade sempre foi ao longo de toda sua história um ponto vital para a economia.
A começar na expansão do Império Romano devido à sua posição estratégica. Os romanos tinham Verona como base e deixaram nela estruturas grandiosas presentes até hoje. Entre tantas, cito o arco romano “Arco dei Gavi” erguido no século I d.C. pelos romanos em homenagem à família Gavi, e a Arena de Verona, também do século I d.C., localizada na Piazza Bra que é ainda utilizada para espetáculos de Óperas durante o verão.
Com a queda do Império Romano, Verona viu uma sucessão de governantes, mas foi a família Scaligeri que transformou a cidade num reduto medieval. E Verona torna-se um importante entreposto comercial entre as principais cidades Estados Veneza e Genova. Sob o domínio veneziano, que começou no século XV, Verona floresceu artisticamente, uma era de ouro que ornamentou a cidade com obras renascentistas que ainda adornam suas praças e igrejas. Partes das muralhas do período medieval podem ser vistas no centro da cidade, próximo a Arena no Relógio da Porta Nuova ( foto abaixo), no bairro da Veronetta, assim como no alto das colinas acima do Castel San Pietro.
Dada sua importância estratégica Verona sempre foi palco de disputas e por consequência de guerras, entre 1796 e 1814 o território foi dominado pelo exército francês de Napoleão, que inclusive na sua passagem pela cidade em 1797 foi responsável por estabelecer a oraganização numérica das casas. Numeração esta que permanece até hoje nas principais ruas do centro histórico como por exemplo a via Sottoriva.
Posteriormente ao período Napoleônico Verona passou a pertencer ao Império Austríaco de 1814 a 1866 e já no século XX, infelizmente foi palco da primeira e segunda guerra mundial, sendo dominada pelo exército nazista e depois bombardeada e parcialmente destruída pelos aliados, que em abril de 1945 libertaram a cidade pondo fim a guerra na Itália.
Atualmente Verona é uma cidade patrimônio histórico da UNESCO, respira história, mas continua, desde sua criação, sendo de muita relevância econômica. Está entre as cidades mais ricas do país e no top 10 das cidades mais visitadas pelos turistas estrangeiros na Itália graças a atrações como a “Casa di Giulietta” e a temporada de Óperas que ocorre anualmente durante todo o verão na Arena di Verona.
A Lenda de Romeu e Julieta
Verona é, para muitos, sinônimo de amor eterno devido a William Shakespeare, que a escolheu como cenário para "Romeu e Julieta". A trágica história dos jovens amantes, vítimas de famílias rivais em Verona, tem suas raízes em contos italianos anteriores, mas foi Shakespeare quem imortalizou a cidade e seus recantos românticos. A Casa di Giulietta, com sua famosa varanda, atrai milhares de visitantes e mantém viva a essência da lenda.
O Vinho Amarone: um patrimônio veronese
Dentro deste contexto histórico e cultural, Verona também é reconhecida por seu notável vinho, o “Amarone della Valpolicella”. O Amarone nasce em Valpolicella, uma região vinícola que faz parte da “Provincia di Verona” que se estende pelas colinas ao norte da cidade. Este vinho distinto surge de uma técnica de vinificação chamada appassimento, que envolve secar as uvas recém colhidas em esteiras durante o outono e inverno, concentrando seus açúcares naturais.

Mas este vinho, assim como a cidade, também é cercado de lendas. Até aproximadamente 1930 o vinho produzido na região era doce, e chamava-se “Recioto di Amarone”. Era feito a partir da mesma técnica de appassimento das uvas, porém um erro no processo de vinificação fez com que o vinho armazenado se tornasse seco, e após analisar o erro percebeu-se que o vinho seco produzido a partir daquela técnica de vinificação de vinho doce também poderia ser interessante e atrativo comercialmente.
Os primeiros registros oficiais de produção de Amarone são da década de 50, porém o vinho era chamado ainda de Recioto di Amarone. O nome Amarone della Valpolicella surge apenas em 1968 com a criação da "Denominazione di Origine Controllata (DOC) Amarone della Valpolicella”.
Por fim, atualmente o Amarone della Valpolicella é um vinho tinto seco de elevado prestígio internacional devido a suas características, complexidade, bem como potencial de envelhecimento. Tendo como principais mercados os Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido e países asiáticos.
Além do Amarone della Valpolicella a região produz o Recioto della Valpolicella (o mesmo vinho doce que deu origem ao Amarone), Ripasso della Valpolicella, Valpolicella Superiore e o próprio vinho Valpolicella, considerado o vinho do dia a dia na região.
A cidade de Verona, entre as lendas de Romeu e Julieta e o prestigiosa vocação vinícola da Valpolicella, demonstra uma profunda e harmoniosa conexão entre passado e presente. Morar em Verona por três anos foi uma experiência transformadora e convido todos que puderem a conhecê-la. Verona é, sem dúvida, um lugar capaz de criar memórias duradouras para todos que a visitam, pois como escreveu Shakespeare:
“Não existe mundo fora das muralhas de Verona, apenas purgatório, tortura, inferno. Quem é banido daqui, é banido do mundo, e o exílio do mundo é a morte..."
Caso queira conhecer Verona, deixo algumas dicas:
Para passear e aproveitar o centro histórico de Verona, não se faz necessário alugar carro - se você chegar pelo aeroporto você pode pegar um onibus que parte do desembarque e vai direto para a estação central. A frenquencia é de 15 em 15 minutos e o custo é de 6€, e da estação Porta Nuova você pode pegar um taxi ou ônibus para seu destino ou mesmo ir caminhando pelas ruas.
Porém para visitar as vinícolas ou até mesmo para conhecer os pequenos comunes como Soave, San Giorgio di Valpolicella ou mesmo chegar ao belíssimo Lago de Garda é aconselhável alugar um veículo, pois não há muita disponibilidade de ônibus.
O que conhecer:
Entre tantas atrações no centro histórico de Verona destaco as imperdíveis: Casa di Giulietta | Arena di Verona | Piazza delle Erbe | Castelvecchio | Chiesa di San Fermo | Ponte Pietra | Vista panoramica da cidade no Castel San Pietro.
O que comer:
A gastronomia típica veronese, assim como a italiana é muito rica, portanto não deixe de apreciar os principais pratos de Verona tais como:
Risoto all’Amarone | Bollito con la Pearà | Pastissada di Caval | Risotto all Tastasal | Fegato alla veneziana com polenta (culinária de Venezia, mas já que está lá experimente também) | Salames e Queijos (da região em especial com o queijo Monte Veronese).
Onde comer e beber :
Antica Bottega del Vino | Osteria Montebaldo | Trattoria al Pompiere | Osteria Ponte Pietra | Pizzeria Leon D’oro | San Mattia Pizzeria – Torricelle | Ristorante Maffei | Vigneto dei Salumi (em Negrar di Valpolicella) | Signorvino (para beber e comprar vinho) | Agribirrificio Laorno (cervejaria artesanal a uma hora do centro de Verona).
Enoturismo:
Na Valpolicella há uma quantidade infinita de cantinas vinícolas de todos os portes e perfis. Aqui estão algumas dentre as cantinas mais tradicionais e renomadas da região.
Cantina Santa Sofia | Cantina Masi | Cantina Bertani | Cantina Ugolini | Cantina Quintarelli | Tenuta Sant'Antonio | Cantina Pieropan (Soave).
Para toda e qualquer programação é fundamental reservar com muita antecedência, principalmente as visitas em cantinas vinícolas.
Espero que você tenha gostado deste texto o tanto quanto eu gostei de redigí-lo. Deixe seus comentários e compartilhe com os amigos. E caso queira informações mais detalhadas sobre Verona ou mesmo sobre a Itália não hesite em me pedir seja aqui newsletter ou no meu instagram @rafaelwine.
Até a proxima quinta!
Espero podermos visitar Verona todos juntos no futuro.
Com esta descrição senti como se estivesse lá ❤️😘