Tannat, a uva símbolo do Uruguai: história, curiosidades e vinhos que surpreendem.
Como uma variedade nascida nas montanhas dos Pireneus se adaptou tão bem ao solo uruguaio? A resposta envolve um visionário, um terroir único e muito trabalho técnico da enologia do novo mundo.
De origem francesa, a Tannat é uma uva autóctone da região sudoeste do país, mais precisamente de Madiran. Um pequeno território vitivinícolo próximo às montanhas dos Pireneus, na fronteira com a Espanha. A Appellation d'Origine Contrôlée (AOC) Madiran tem na tannat sua principal uva que rende vinhos longevos de estrutura intensa e taninos elevados.
Características dos vinhos Tannat Madiran AOC
Aromas: Frutas negras (amora e mirtilo), especiarias e notas defumadas.
Paladar: Encorpado, com taninos e acidez elevados.
São vinhos de potencial de guarda de 20 anos ou mais.
Indicação de Vinho :
Château Montus 2019
“Um vinho escolástico Madiran AOC”. É um blend de 80% Tannat e 20% Cabernet Sauvignon. Este vinho captura a essência do terroir montanhoso e seco dos Pireneus, resultando em uma expressão potente e concentrada.
Uruguai: a tannat pelas mãos de Pascal Harriague
As primeiras mudas de tannat chegaram ao país sul americano no final de Século XIX através de Pascal Harriague que acreditou que o clima temperado, com influência oceânica e os solos argilosos com vestígios vulcânicos seriam ideais para esta variedade. E acertou! Tanto que 20 anos depois de sua chegada com as primeiras mudas de videira, Pascal foi condecorado pelos serviços de interesse nacional prestados ao Uruguai.
Atualmente, 30% dos vinhedos uruguaios são de Tannat, que é reconhecida internacionalmente por ter sua expressão máxima no terroir uruguaio.
Mas o que distingue a tannat francesa da uruguaia?
Enquanto a versão francesa é poderosa e austera, a tannat uruguaia tende a ser mais equilibrada. Mas onde está o segredo?
Influência do Atlântico: Brisas marítimas refrescam os vinhedos, preservando acidez, suavizando taninos e favorecendo uma maturação mais lenta ao longo do verão.
Estilo de cultivo e vinificação, tais como a produção de vinho a partir de vinhedos específicos e não de uvas colhidas de todo a propriedade; e a utilização de barricas de carvalho que aceleram o processo de evolução do vinho os tornando mais rapidamente “prontos para beber” (taninos mais macios e aveludados).
Regiões Produtoras: Da Brisa do Atlântico ao Coração do Uruguai
O Uruguai pode ser um país pequeno, mas sua diversidade climática e de solos faz toda a diferença na expressão da tannat. Existem sete regiões vitivinícolas oficiais, dentre as quais destaco duas:
1. Região Oceânica: Frescor e Elegância
Localização: Costa Atlântica, incluindo Maldonado e Punta del Este.
Clima: Influência direta do Oceano Atlântico, com ventos marítimos que trazem frescor e ajudam a maturação lenta das uvas.
Perfil dos vinhos: mais refinados, com alta acidez e taninos mais macios.
Indicação de vinho:
Bodega Garzón – Single Vineyard Tannat 2022
Um dos rótulos mais icônicos do Uruguai, conhecido pela intensidade da cor, profundidade aromática, equilíbrio e persistência.
2. Região Metropolitana: Estrutura e Potência
Localização: Inclui Canelones, a principal área vitivinícola do país, onde estão mais de 70% dos vinhedos do país.
Clima: mais temperado, com solos argilosos e bem drenados, o que favorece vinhos encorpados e tânicos.
Perfil dos vinhos: intensos, estruturados e com grande potencial de envelhecimento.
Indicação de Vinho
Bodega Bauza - Tannat Parcela Única B6 2022.
Vinícola tradicional da região de Montevideo. Uvas provenientes de vinhedo único na região de Canelones. Vinho faz 14 meses em barricas de carvalho francês, resultando em um vinho de muito corpo com notas de frutas silvestres, chocolate, especiarias.
Dicas de harmonizações:
A harmonização perfeita do tannat uruguaio é o cordeiro assado. Esta é, sem sombra de dúvida, a harmonização clássica.
Em lado oposto, outra sugestão é experimentar um tannat com chocolate 70% (ou mais), pois os taninos tenderão a integrar-se bem a gordura do chocolate, o açúcar do chocolate também reduzirá a adstringência do vinho e, por fim, a complexidade aromática do vinho (aromas de tostado, baunilha, chocolate e frutas silvestres) casará também com os sabores do chocolate.
Curiosidade:
Segundo o site oficial “Uruguay.Wines”, estudos indicam que o vinho de tannat tem os maiores níveis de antioxidantes entre os vinhos tintos, e portanto, se degustados com moderação, trazem benefícios para a saúde cardiovascular.
Qual estilo de Tannat é o seu favorito?
De um lado, temos os Madiran franceses, imponentes, de taninos rústicos. Do outro, os tannats uruguaios, mais macios e equilibrados.
Deixe seu comentário e compartilhe sua experiência!
Um brinde aos excepcionais vinhos uruguaios. Até a próxima!
Tá aí uma variedade que eu nunca dei muita chance. Acho que ao confrontá-la com o Malbec argentino ele perde de longe na relação custo x benefício, mas faz tempo que não comparo. Uma hora dessas farei um cordeiro e seguirei tua dica de harmonização pra ver se a variedade me apetece mais! Obrigado!!!