Guia de visitação em Champagne: de grandes maisons a pequenos produtores.
Um guia perfeito para explorar a região de Champagne em até 3 dias de visitas. Das grandes maisons aos pequenos produtores numa verdadeira imersão pela região.
Na publicação anterior, de comemoração de um ano do blog, apresentei a região de champagne, alguns pontos turísticos importantes, vilarejos emblemáticos e, obviamente, falei também como é produzido e classificado o vinho espumante mais famoso do mundo, o champagne.
Mas o texto só nos deixou com mais sede e curiosidade. Nesta segunda parte, conforme prometido, apresentarei seis vinícolas para visitar na região, proporcionando não apenas a oportunidade de degustar alguns dos melhores champagnes, mas também de compreender as diferenças entre grandes maisons e pequenos produtores. Além disso, ao explorar diferentes partes do território, será possível perceber as nuances que cada terroir imprime nos vinhos, tornando a experiência ainda mais rica e completa.
Reims, nosso ponto de partida do tour.
Reims é uma cidade onde tradição e contemporaneidade se misturam, infelizmente como reflexo das guerras. Entre monumentos históricos e largas avenidas, encontram-se as clássicas Maisons de Champagne reconhecidas mundialmente. Na cidade de Reims as minhas sugestões são as seguintes visitas:
1 - Maison Taittinger:
A Maison Taittinger foi fundada em 1932, quando Pierre Taittinger adquiriu o Château de la Marquetterie, uma propriedade histórica localizada próximo a Épernay, com vinhedos que datam do século XVIII. A principal uval de cultivo é a Chardonnay que define o estilo da maison. A Taittinger permanece como uma das poucas grandes casas de champagne ainda administradas por uma família.
Curiosidade:
As caves subterrâneas da Taittinger, localizadas em Reims, foram construídas sobre antigos túneis de giz datados da época romana e foram usados como abrigo durante a Primeira Guerra Mundial.
Acima das caves, no local onde hoje está a maison, ficava a antiga Abadia de Saint-Nicaise, construída no século XIII. A abadia foi destruída durante a Revolução Francesa, mas suas ruínas são memória importante do local e junto com as caves são Patrimônio Mundial da UNESCO.
Principal rótulo:
O Comtes de Champagne Blanc de Blancs é o rótulo mais icônico da maison, elaborado exclusivamente com Chardonnay das melhores vinhas Grand Cru da Côte des Blancs. É conhecido por seu caráter fresco, mineral e extremamente elegante, sendo produzido apenas em safras excepcionais.
Visitação:
A Taittinger está sempre aberta para visitação. A minha sugestão é entrar no site e adquirir os bilhetes com antecedência. Como eles possuem diversos tipo de tours e degustações você deve escolher aquele mais adequado.
Taittinger Experience: Tour e Degustação
Taittinger Tour Virtual (este é o link para o excelente tour virtual da vinícola).
2 - Ruinart
A Maison Ruinart, fundada em 1729, é a mais antiga casa de champagne do mundo. Foi criada por Nicolas Ruinart, inspirado pela visão de seu tio, o monge beneditino Dom Thierry Ruinart amigo de Don Pérignon. A casa se estabeleceu no coração de Reims e logo conquistou a aristocracia Europeia, que entre os ilustres clientes tinha a corte do rei Luís XV. Atualmente a Ruinart pertence ao grupo econômico LVMH - Moët Hennessy Louis Vuitton - junto com a própria Moët & Chandon, Krug e Veuve Clicquot.
Curiosidades
A Ruinart foi pioneira em utilizar as caves de giz subterrâneas ("crayères") para envelhecer seus champanhes. Essas caves, localizadas sob Reims, são hoje classificadas como Patrimônio Mundial da UNESCO e chegam a 38 metros de profundidade e é algo único e impressionante.
Durante a Segunda Guerra Mundial, as caves da Ruinart foram usadas como abrigo e esconderijo para os habitantes de Reims.
Principal rótulo:
Ruinart Blanc de Blancs, 100% chardonnay advindas de vinhedos premier cru e grand cru da região, com 36 meses de contato com as leveduras. Sem dúvida é um vinho muito elegante com excelente mineraliade.
Visitação
Assim como a Taittinger a Maison Ruinart está sempre aberta a visitação, a “Ruinart Experience” vai desde a visitação pelas caves com degutação de vinhos até um jantar com harmonização com 5 pratos criados pelo Chef 3 Estrelas Michellin Arnaud Donckele que custa “apenas” 650€. Segue o link para aquisição antecipada dos ingressos Ruinart Experience.
3 - Domaine Pommery
Fundada em 1836, a maison ganhou destaque sob a liderança de Jeanne Alexandrine Pommery - conhecida como Madame Pommery, que assumiu após a morte do marido em 1858. Visionária, ela revolucionou o mercado ao lançar o primeiro Brut moderno em 1874 – um champanhe menos doce e mais seco, alinhado ao paladar da aristocracia inglesa. Hoje, a Pommery faz parte do grupo Vranken-Pommery Monopole, mas mantém seu espírito pioneiro.
Curiosidades:
Madame Pommery: Uma Mulher à Frente do Seu Tempo. Uma das primeiras mulheres a comandar uma maison de champagne, Jeanne Pommery foi responsável por transformar a produção em um símbolo de luxo e sofisticação. Ela também investiu em educação e bem-estar para seus funcionários, algo raro na época.
As Caves Góticas da Pommery são as mais profundas de Reims e têm uma arquitetura única, com escadarias monumentais e galerias que lembram catedrais subterrâneas.
Arte e Inovação: A Pommery tem uma tradição de patrocínio artístico. Desde o século XIX, encomendava obras para decorar as caves.
Principal Rótulo:
O Grand Cru Royal é champanhe de prestígio da Pommery, homenagea a própria Madame Pommery. É um blend de Chardonnay e Pinot Noir de Grands Crus, envelhecido por 10 anos nas caves. É um vinho com ótimo equilíbrio entre os aromas primários, secundários e terciários que se somam a uma leve oxidação.
Visitação:
Assim como as anteriores a Mademe Pommery está aberta durante todo o ano e possui diversos tipos de passeios e degustações. Os bilhetes podem ser comprados na hora sem nenhum problema.
A combinação entre a grandiosidade e a beleza da vinícola, aliada à flexibilidade de horários, faz da Domaine Pommery, na minha opinião, uma parada obrigatória. É a escolha ideal para quem planeja um bate e volta de um dia entre Paris e Reims ou dispõe de pouco tempo para explorar as vinícolas da região.
Vallée de la Marne, atravessando a Montagne de Reims:
Deixando a cidade de Reims, há pouco mais de 30 minutos de carro, Hautvillers é um vilage de classificação Premier Cru do Vallée de la Marne. E na pacata cidade de Don Pérignon está a minha quarta sugestão para visita e degustação:
4 - Champagne Tribaut:
Fundada em 1929 por Raoul Tribaut, esta casa familiar está localizada em Hautvillers. A vinícola é conhecida por seus vinhos elegantes e pela valorização da Pinot Noir, principalmente de vinhedos em Premier e Grand Cru das vilas Aÿ, Bouzy e Hautvillers
Curiosidades:
Foco no terroir: A Tribaut trabalha com parcelas específicas em vilas como, priorizando a expressão mineral e a pureza das uvas.
Sustentabilidade: Recentemente, adotou práticas mais orgânicas em seus vinhedos, reduzindo o uso de produtos químicos.
Principal rótulo:
Cuvée Especial: A linha "Origine" celebra o legado de Raoul Tribaut, com blends meticulosos de Pinot Noir e Chardonnay e o Tribaut Rosé (à base de Pinot Noir) é interessante pelos aromas de frutas frescas tais como cereja e framboesa.
Visitação:
A vinícola oferece uma vista do Vallée de la Marne. Os visitantes são bem-vindos de segunda a domingo, das 9h às 12h e das 12h às 17h30. Durante a visita, é possível explorar as caves, aprender sobre o processo de produção e degustar os champanhes produzidos pela família. Mesmo estando aberta todos os dias, a minha sugestão é entrar em contato com antecedência para reservar um horário, pois diferente das grandes Maisons eles não fazem tours com grandes grupos.
Um salto até a Côte des Bar, o territorio da Pinot Noir.
A minha quinta sugestão está na Côte des Bar, que fica há aproximadamente 2 horas de carro de Hautvillers em direção ao sul (sentido Dijon). Parece ser uma viagem longa, porem é um trajeto em meio aos campos e vinhedos de champagne por estradas locais. Deste modo, para ter a oportunidade de fazer este tour na região meridional da Champagne a minha recomendação é pernoitar em um vilarejo. Nestas pequenas vilas a oferta de agriturismos e airbnbs podem proporcionar uma verdadeira imersão na região.
5. Champagne Piconnet
A Champagne Piconnet é uma pequena e jovem vinícola de espírito inovador. Fundada em 2014 por pelo casal Clément e Agathe Piconnet, a Champagne C.H. Piconnet produz vinhos classificados como RM - Récoltant Manipulant, ou seja, produz vinho apenas com uvas cultivadas em seus próprios vinhedos que totalizam 6 hectares. A casa tem um estilo de produção artesanal e biodinamico, cuja a principal uva é a Pinot Noir refletindo o estilo mineral e vibrante.
Curiosidades:
Champagne produzido com uvas de vinhedos únicos o que reflete um estilo de seleção das uvas similar ao da Borgogna. O objetivo aqui é a valorização e expressão máxima do terroir conhecido por seu solo de giz puro, que se manifesta no vinho com alta acidez e mineralidade.
Fermentação Natural: As uvas colhidas e selecionadas são fermentada com leveduras indígenas, ou seja, fermentação natural e espontânea, para destacar também o caráter do terroir.
Produção Limitada: Com menos de 10.000 garrafas por ano, seus champanhes são raros de serem encontrados.
Principal Rótulo:
O Piconnet Blanc de Noir (100% Pinot Noir), ano 2016 com envelhecimento prolongado em caves, faz 36 meses de contato com as leveduras (dégorgment em 2019). Produção de apenas 415 garrafas. Apresentando notas de frutas cítricas e um final salino.
Mas para mim, entre os champagnes da Piconnet que degustei, o principal rótulo é o Pinot Blanc 100%, que segue exatamente o propósito minimalista da vinícola e com uma uva que está entre as 7 castas permitidas pela Apelação de Origem Controlada Champagne, mas que não figura entre as principais.
Este vinho eu coloquei no meu Top 10 de 2023.
Visitação:
Para aqueles interessados em explorar os champanhes artesanais da C.H. Piconnet, é fundamental entrar em contato diretamente com a vinícola para agendar uma visita e degustação. Como é uma vinícola pequena, possívelmente você será atendido pelos proprietários, o que proporcionará uma experiência única e antagônica as grandes Maisons.
Site: champagne-chpiconnet.fr/
O bonus da visitação
Já que chegamos até a Côtes de Bar a minha recomendação é tentar fazer pelo menos uma outra visita na região, também em pequeno produtor que expressa muito bem o que é o terroir do sul da Champagne, uma vinícola familiar com um estilo particular.
6. Champagne Jean Laurent
Fundada em 1946 pelo próprio Jean Laurent, esta casa familiar está sediada em Celles-sur-Ource, na Côte des Bar. Diferente das casas clássicas de Reims ou Épernay, a Jean Laurent representa um estilo muito similar ao Piconnet, ou seja, ênfase no território com mínima intervenção, onde o Pinot Noir domina os vinhedos.
Curiosidades:
Estilo "Borgonhês": Por estar próxima à Borgonha, a Jean Laurent utiliza técnicas como fermentação em barricas de carvalho e maceração prolongada resultando em champagnes robustos e complexos, ou seja, bastante diversos de todos os demais apresentados nesta edição.
Vinhas Velhas: Trabalha com vinhedos 20 e até 60 anos, concentrando sabores e minerais.
Principal Rótulo:
O Jean Laurent Cuvée Grand Cru (100% Pinot Noir) é um champagne potente, aromas de frutas silvestres e nuances de tostados do carvalho. Já o Jean Laurent Blanc de Noirs Brut Nature, para mim o melhor, é uma mescla de intensidade aromática, persistência, robuste e alta acidez.
Visitação:
Fazer agenda com pequenos produtores é sempre difícil, mas não é impossível. Portanto também é fundamental entrar em contato com a vinícola para agendar uma visita e degustação.
Site: champagne-jean-laurent.fr
“Um final de semana em Champagne” é muito mais do que simplesmente degustar vinhos espumantes excepcionais, é uma imersão histórica na tradição familiar de gerações de produtores que se dedicam ao cultivo das terras e a valorização de seu território para que tanto a região quanto o vinho, resultado final, sejam reconhecidos como um verdadeiro ícone global.
Por mais que as visitas às cantinas possam, por vezes, parecer repetitivas, cada visita nos oferece uma nova descoberta, uma nova taça para brindar e uma história para compartilhar. Esta é sem dúvida, para mim, a melhor parte!
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