Chianti Clássico e a lenda do "Gallo Nero"
O Chianti Clássico é um dos vinhos mais conhecidos no mundo. E no Brasil é um dos mais consumidos, pois é fácil de beber e é produzido numa das regiões mais visitadas da Itália, a Toscana.
Na publicação desta semana daremos uma pausa na série “Como tornar-se um expert na degustação de vinhos” para contarmos uma história lendária que envolve o Chianti Clássico, um dos vinhos italianos mais conhecidos e que no Brasil, sem dúvida, está entre os vinhos mais consumidos. Mas não obstante sua fama, o Chianti Clássico entrega uma ótima relação qualidade preço1. É um vinho fácil de beber, pode ser consumido ainda jovem ou mesmo pode apresentar uma evolução muito interessante após alguns anos, mas desde que armazenado corretamente.
A sua região de produção, a Toscana, mais precisamente a porção de território localizado entre as cidades de Firenze e Siena, é uma das regiões mais visitadas da Itália. Suas paisagens colinares, somadas a riqueza histórica e cultural são complementadas por uma das melhores enogastronomias do mundo que atraem milhares de turistas durante todo ano.
Mas há mais do que apenas sabor e tradição neste vinho toscano - há também uma lenda fascinante, simbolizada pelo imponente “Gallo Nero” que adorna os rótulos de todos os vinhos provenientes desta região e na newsletter desta semana, mergulharemos neste conto que há por trás dessa icônica figura, que encanta os amantes deste vinho tinto que já foi também branco2.
Como dito, a zona do Chianti Clássico é localizada no coração da Toscana, são 700 mil hectares de paisagens icônicas, vinhedos, estradas de ciprestes e pequenas cidades medievais tais como Castellina in Chianti, Gaiole in Chianti e mais outras 6 que compõem o território do Chianti Clássico.
A região tem como símbolo o “Gallo Nero”, que é um emblema histórico da antiga Liga Militar do Chianti do século XIV, reproduzido em entre os anos de 1563/65 pelo artista fiorentino Giorgio Vasari no teto do “Salone dei Cinquecento”, dentro do Palazzo Vecchio em Firenze. Mas desde 1924 tornou-se também símbolo do consórcio de vinho mais antigo da Itália, o Chianti Classico.
Mas história deste símbolo inclui também uma lenda singular do período medieval, que remonta as batalhas entre Firenze e Siena pelo o território do Chianti Clássico.
A lenda conta que na Idade Média, quando as Repúblicas de Firenze e Siena lutavam incansavelmente para prevalecer uma sobre a outra. Firenze possuía os melhores e mais bravos soldados. Já Siena os mais velozes e hábeis cavaleiros. E o território do Chianti Clássico, por estar entre os dois reinos, era objeto de intermináveis batalhas. Então, vencidos pelo tempo e escassez, os líderes de cada território resolveram por um fim àquela disputa e estabelecer uma fronteira definitiva. E em comum acordo, decidiram adotar uma disputa no mínimo curiosa:
Concordou-se então em enviar dois cavaleiros, que partiriam ao amanhecer, cada um da sua respectiva capital para fixar a fronteira no exato ponto de encontro entre eles. Como a largada deveria ocorrer ao amanhecer, o sinal de partida seria justamente o canto de um galo. Decisão esta que estava em linha com os costumes da época, quando o ritmo diário ainda era marcado por eventos naturais.
Nos preparativos para o evento, Firenze elege seu mais forte e resistente soldado, enquanto Siena seu mais rápido cavaleiro. Além disso, a escolha do galo responsável por anunciar o amanhecer também era decisiva. Os senenses escolheram um galo branco, imponente, e sempre bem alimentado cantava infalivelmente todos os dias no mesmo horário. Já os florentinos, preocupados pela aparente desvantagem que teriam na disputa sobre o cavalo, optaram nas vésperas da corrida por um galo de penas escuras, magro e mal alimentado que aparecera na cidade dias antes da corrida.
Diz a lenda que o pobre galo era cuidado por um menino, e segundo ele, costumava cantar sempre que estava com fome.
Portanto, vislumbrando uma possível vantagem, os fiorentinos pegaram o galo e o mantiveram trancado em um estábulo escuro, quase em jejum a ponto de deixá-lo em um estado de absoluto stress até o amanhecer da corrida.
No dia da disputa, assim que foi retirado do estábulo, mesmo que o amanhecer ainda estivesse distante, o galo fiorentino começou a cantar alto pedindo por comida. Seu canto foi o sinal de largada para que o cavaleiro partisse imediatamente com relativa vantagem sobre o senense, que por sua vez teve que esperar pelas primeiras luzes do dia, quando seu imponente galo finalmente cantou e lhe permitiu partir.
Então, dada a considerável diferença do horário de largada entre os cavaleiros, o senense percorreu alguns quilômetros até encontrar o fiorentino em Fonterutoli. E assim Siena reconheceu a derrota que colocou fim a disputa pela zona do Chianti Clássico, que desde então passou ao controle da República de Firenze.
DICA DE FILME: o curta metragem - "La leggenda del Gallo Nero"
Desde 2005 o “Gallo Nero” é marca coletiva representativa dos vinhos e de todo o território de produção do Chianti Clássico. Sua imagem não aparece somente nas garrafas de vinho. É encontrada em estátuas e obras de arte nos centros de todas as cidades históricas da denominação, e também em lojas de souvenirs sinalizando um trabalho de marketing e construção de marca bem sucedido.
Muito obrigado e até a próxima newsletter!
É um vinho que pode ser encontrado facilmente na faixa de 70,00 reais nas suas versões de entrada, e não irá decepcionar principalmente se harmonizado com uma bela tábua de salames e queijos, ou mesmo um massa com ragú.
No passado, antes de se tornar predominantemente um vinho tinto, o Chianti branco era tradicionalmente produzido a partir de uma mistura de uvas brancas cultivadas na região da Toscana, na Itália. Algumas das uvas comumente usadas incluíam a Malvasia Bianca, Trebbiano Toscano, Vernaccia, e outras variedades brancas que eram cultivadas na região.
Bela história, mas a estátua foi feita depois que o galo, já famoso, foi bem alimentado diariamente...