Como se tornar um expert na degustação de vinhos (parte 2): Taninos
Retomamos aqui a série na newsletter "Como se tornar um expert na degustação de vinhos" e nesta segunda parte falaremos sobre os taninos, o que são, como os percebemos e como podemos descrevê-los.
Na semana passada apresentei o conteúdo sobre a principal região vitivinícola da Espanha, a região de Rioja DOCa. E não falei apenas sobre os excelentes vinhos tintos feitos a base de Tempranillo e os brancos com a uva Viura, mas também exploramos as numerosas atrações que enriquecem o enoturismo na região. Desde visitas a cidades históricas, os possíveis passeios de balão ou de bicicleta em meio à natureza, além de explorações em museus e, é claro, uma rica experiência gastronômica local.
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Nesta semana, retornamos à nossa série "Como se tornar um expert na degustação de vinhos". Como wine specialist, meu objetivo é simplificar e explicar didaticamente o que encontramos dentro de uma taça de vinho. No primeiro texto da série falamos sobre os aromas e hoje dedicaremos nossa atenção a um componente fundamental na estrutura dos vinhos tintos, que são os taninos.
Em uma garrafa padrão de 750ml de vinho, os taninos representam apenas 0,4% do conteúdo total, com o restante composto principalmente por água, álcool e outros elementos. Os taninos são substâncias naturais encontradas nas uvas, especialmente na casca, sementes e engaço (os caules das uvas), e são responsáveis pela sensação de adstringência na boca, aquela "secura" que muitas vezes sentimos após um gole de vinho tinto.
Embora constituam uma pequena porcentagem da composição, os taninos desempenham um papel crucial no equilíbrio de um bom vinho, sobretudo aqueles de guarda, e são essenciais para a experiência sensorial durante a degustação. Devemos compreender como se relacionam e se equilibram com o álcool, a acidez, os açúcares e os aromas do vinho. Sua presença e qualidade variam de acordo com a uva, o método de vinificação, o tempo de envelhecimento e até mesmo o serviço à mesa.
Uvas que produzem vinhos mais tânicos:
Certas variedades de uva produzem vinhos naturalmente mais tânicos do que outras:
Por exemplo, Cabernet Sauvignon, Sangiovese e Malbec tendem a resultar em vinhos com taninos mais pronunciados do que vinhos feitos a partir das uvas Pinot Noir, Gamay ou Carmenere.
Portanto, uma dica inicial é escolher vinhos que correspondam às suas preferências pessoais. Se você não aprecia taninos muito intensos, opte por vinhos elaborados com uvas menos tânicas.
Método de Vinificação:
Durante o processo de vinificação, o enólogo tem a capacidade de influenciar as características tânicas do vinho e elaborá-lo de acordo com os interesses comercias e estilo da vinícola.
Decisões como a inclusão ou não dos engaços, o tempo de maceração, assim como o envelhecimento em barris de carvalho são determinantes para a intensidade dos taninos no vinho.
Portanto, é sempre útil consultar a ficha técnica do vinho ou pedir orientação ao sommelier para entender melhor o que esperar da bebida e se ela atende o seu estilo.
Envelhecimento do vinho e serviço:
O envelhecimento adequado do vinho, quando armazenado corretamente, permite que os taninos se integrem mais harmoniosamente aos outros componentes. A oxidação gradual contribui para suavizar a aspereza dos taninos ao longo do tempo. Paciência pode ser recompensadora ao permitir que uma garrafa especial amadureça até o momento ideal para ser desfrutada. Alternativamente, caso você não queira esperar tanto para abrir um vinho que você sabe que é tânico, o uso de um decanter pode acelerar o processo de aeração, suavizando os taninos de vinhos jovens mais rapidamente.
No entanto, é importante notar que nem todos os vinhos se beneficiam da decantação. Vinhos mais velhos e delicados podem perder seus aromas e sabores se forem decantados por muito tempo.
Como você pode identificar os taninos em um vinho?
A sensação proporcionada pelos taninos de um vinho tinto, também pode ser encontrada quando comemos algumas frutas. Banana e caqui verdes são alguns exemplos. Já nas bebidas, os chás - consumidos sem açúcar, principalmente o preto e o verde, também são ótimos exemplos práticos de como identificar e perceber os taninos de uma bebida, pois eles nos proporcionam uma sensassão símile de adistringência no paladar comparados ao vinho.
Degustação, como percebê-los na prática:
Primeiro observe a cor do vinho na taça. Como os taninos também se concentram nas cascas das uvas escuras, um vinho de cor mais profunda pode sugerir uma quantidade maior de taninos.
Em seguida, pegue um gole do vinho e deixe-o circular na boca por alguns segundos. Para identificar os taninos em um vinho, preste atenção à sensação na boca. Como já dito, eles deixam uma sensação de secura e aspereza na mucosa. Experimente passar a língua pelas gengivas para medir a intensidade dos taninos, você conseguirá sentir o nível de aspereza. E esta sensação irá variar de suave e sedosa a firme e robusta, dependendo da intensidade dos taninos presentes.
Em outras palavras, podemos também descrever essas intensidades simplesmente com uma escala que varia de baixa, média a alta.
Fazendo isso, “desadjetivando a sensação” tornaremos a degustação mais objetiva e fácil de mensurar e compreender os taninos do vinho.
Observe também os aromas e sabores do vinho. Notas de frutas escuras, como ameixa e frutas de bosque, podem indicar uma concentração interessante de taninos, enquanto aromas terrosos ou de couro, que são descritores aromáticos de um vinho já em evolução, podem sugerir taninos mais integrados e evoluídos, em outras palavras, mais maduros ou baixos.
Além disso, tente harmonizar o vinho com alimentos. Os taninos têm a capacidade de realçar os sabores dos alimentos, especialmente carnes vermelhas, ou pratos ricos em gordura. Observe como os taninos interagem com os alimentos e como isso afeta sua percepção do vinho.
Por último lembre-se, a percepção dos taninos é subjetiva e pode variar de pessoa para pessoa. Ter a capacidade de interpretá-los é sem dúvida um grande passo para tornar-se um expert na degustação de vinhos. Algumas pessoas apreciam vinhos mais tânicos, enquanto outras preferem taninos mais leves, e em nenhum dos casos significa saber apreciar um vinho de maior ou menor qualidade. O importante é degustar um vinho em que seus elementos estejam em equilíbrio e que no fim das contas também lhe agrade.
Dicas da semana: Minha sugestão é tentar fazer um comparativo entre dois vinhos, um menos e o outro mais tânico. Por exemplo, comparar um Pinot Noir x Cabernet Sauvignon (para esta experiência escolha dois rótulos de sua preferência). Para fazer uma boa comparação o ideal é servir o vinho em duas taças. Degustar primeiro um gole do Pinot Noir, avaliá-lo, e na sequência fazer o mesmo com o Cabernet. Aproveite esta degustação para treinar também a identificação dos aromas que foi o assunto da primeira parte.
Espero que tenha gostado desta segunda parte. Compartilhe com os amigos(as) e fique atentos a sequência da nossa série “Como se Tornar um expert na degustação de vinhos”.
…Até a próxima newsletter!
Aprecie seu vinho com moderação. Se beber não dirija. Proibido para menores de 18 anos.
A maior diferença entre um Malbec ou um Cabernet Sauvignon pra um Carmenere ou Pinot Noir está nos taninos, Rafa? Se for, meu paladar é definitivamente pros vinhos mais tânicos...
Mais um baita post! Obrigado!!!